sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Uma aventura bem brasileira

Histórias que o povo conta:

Hoje, bela sexta – feira de dia quente , céu azul e tremores de terra.... estava eu passando pela rua quando encontro minha querida Paula. Ela então me perguntou se não tínhamos combinado de almoçar juntos hoje. 


Eu confesso que tinha esquecido, mas como já estava ali, por que não? Eu disse então que iria até a minha casa pegar o dinheiro e já poderíamos ir comer. Para poupar tempo e disposição ela me disse que tinha dinheiro na bolsa que pagaria e depois eu repunha. Eu disse que o almoço custaria como 7 mil pesitos.

Paula e eu fomos almoçar num bom restaurante perto da UPB que tem uma cobertura laranja na fachada e onde a comida é boa , bonita e barata. Só que quando chegamos lá em busca de nosso ‘corrientazo’, havia uma fila gigantesca que então me fez perguntar a Paula : ‘Oiga y qué será que están dando?’.


Cansados, despenteados e com fome, eu disse a Paula que perto dali havia outro restaurante que parecia igualmente ser bom. Como bons cariocas que somos dissemos em plena sintonia: ‘partiu’. E lá fomos nós. Eu não conhecia a comida desse restaurante, só o conhecia de vista, mas parecia ser simples, só parecia.

1º susto: Assim que entrei percebi que era um restaurante italiano, veio então um senhor branco, gordinho , típico italiano , apontou o dedo para mim e gritou: ‘Germany!’ , eu meio assustado respondi : ‘ No, Brazil’, e pensei ‘... por que será que estamos falando inglês num restaurante italiano num país de língua espanhola?’. Enfim, o senhor abriu os braços , deu um largo sorriso e gritou pela segunda vez : ‘ahhhh, Brasileee, mio amico’.  Entre sorrisos, Paula e eu nos acomodamos numa mesa bem arejada.

Trouxeram os cardápios, e foi então quando veio ...
2º susto: O preço das comidas. Gente o que é isso? A Itália está em crise mesmo! O prato mais barato era 16.500! Isso são duas vezes meu amado ‘corrientazo’.Bom, mas já havíamos entrado, sentado , o jeito era comer. Paula correu para contar o dinheiro que ela tinha na bolsa, depois de buscar em todos os bolsos e contar até as moedas, ela tinha como 42.500. 


Depois de conferir o saldo disponível, foi o momento de ver o mais barato e pedir dois , o mais barato era lasanha , 16.500 x 2 = 33,000. OK, dá para comer, mas calma, nos restaurantes costuma-se ter a gorjeta incluída, bom, uma gorjeta não é mais que 9 mil pesos, né? Doce ilusão. Decidíamos que não pediríamos nada para beber, porque desestabilizaria nosso orçamento minucioso. Se alguém perguntasse iríamos dizer que no Brasil não se costuma beber enquanto se come.  


Enquanto esperávamos, nos trouxeram uns pãezinhos de Santo Antônio, esses duros que dão nas igrejas para colocarmos nas latas de mantimento para termos alimento por todo o ano. 


Pensei: ‘opa, será que isso é uma indução a comprar algo para beber? Por isso que trouxeram esse pão duro e seco?’. Calma, muita calma nessa hora, não iríamos cair nessa ‘trampita de satanás’.


A comida demorou como 20 minutos para chegar, se eu soubesse que demoraria tanto, teria ido até minha casa buscar mais dinheiro para mostrar ao italiano que o Brasil está com uma melhor economia.

Finalmente chegou o prato, com uma boa aparência, eu não perdi tempo e mergulhei meus pãezinhos no molho da lasanha. A lasanha realmente estava muito boa, tanto a minha quanto a da Paula...mas no ar ainda estava um suspense de ‘será que teremos dinheiro para pagar a conta’. Comemos, fofocamos, rimos de uma mulher que estava comendo com babador e no final Paula pediu a conta com seu movimento internacional de autografar no ar.

O grande momento chegou, veio a conta ... 44.200.  Eu pensei então ‘ ay marica, estamos perdidos!’. 


Para quem não é bom em matemática como eu, tínhamos 42.500 e a conta deu 44.200 = ou seja, faltaria 1,700 pesitos. Paula mergulha na sua bolsa em busca de algumas moedas, eu estava sem nenhum pesito. O desespero rondava em nossas cabeças. Eu sugeri dizer que estávamos no país há pouco tempo e não sabíamos contar bem o dinheiro. Paula, como é mais direta disse que chamaria o italiano e diria que não tínhamos o dinheiro completo, mas que depois poderíamos voltar e trazer o que faltava.

Depois de tantas discussões e alternativas cogitadas, decidimos, colocar as notas e moedas dentro da pasta da conta e sair sorrindo e acenando como os pinguins de Madagascar. 

Damos calote, mas não perdemos a pose. 


Já estávamos na saída, descendo as escadas quando o italiano me agarrou pelo braço, eu pensei: ‘Jesus, nos descobriram’, já estava pronto para gritar ‘ Corre Paula’, mas então percebi que o italiano só queria saber como dizer ‘ grazie’ em português. Uff que alívio, lhe ensinei então a falar ‘muito obrigado’ e sai aliviado e de barriga cheia.

A Paula me convenceu que não demos calote, porque a conta deu 32.000 o resto era imposto e gorjeta, então pagamos pelo que comemos. Depois do susto, viemos para casa rindo como duas hienas assistindo filme de comédia, pensando que eu deveria ter dito que sim era alemão, pois assim não passaríamos a ideia de que os brasileiros comem e não pagam a conta por completo.


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